A importancia do Banco de Dentes relato de experiência - Odontologia (2024)

Arch Health Invest (2017) 6(10):486-490 © 2017 - ISSN 2317-3009

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A importância do banco de dentes humanos:

relato de experiência

The importance of the human teeth bank in public health:

experience report

La importancia del banco de dientes humanos:

relato de experiencia

Marcos Sérgio ENDO1

Isabela Regina Grilo SILVA2

Márcia Cristina da SILVA2

Raquel Sano Suga TERADA1

Najara Barbosa da ROCHA1

Professor(a) Adjunto do Departamento de Odontologia, da Universidade Estadual de Maringá-UEM,

87020.900 Maringá-PR, Brasil

Aluna da graduação do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá-UEM,

87020.900 Maringá-PR, Brasil

Resumo

O banco de dentes humanos (BDH) do Departamento de Odontologia (DOD) da Universidade Estadual de Maringá

(UEM) trata-se de um núcleo sem fins lucrativos, com participação de docentes e discentes voluntários, objetivando

documentar a procedência e destino dos dentes humanos extraídos, a fim de suprir as necessidades acadêmicas para o

aprendizado dos alunos e o fornecimento de dentes humanos para a pesquisa. Este trabalho tem como objetivo relatar a

experiência do BDH do DOD-UEM. Ele é mantido por meio de doações dos pacientes atendidos na Clínica Odontológica

desta Universidade, unidades básicas de saúde e outras fontes. O BDH distribui os dentes extraídos, zela pela eliminação

da infecção cruzada e diminui o manuseio indiscriminado de dentes extraídos. Com isso, conclui-se que o BDH é de

extrema importância para a universidade, valorizando o dente como órgão e possibilitar a execução de trabalhos de

pesquisa científica.

Descritores: Dente; Coleta de Tecidos e Órgãos; Odontologia.

Abstract

The human teeth bank of the Department of Dentistry of the State University of Maringá is a non-profit center with the

participation of volunteer teachers and students, aiming to document the origin and destination of human teeth In order to

meet the academic needs for student learning and the provision of human teeth for research. This work aimed to report the

experience of the human teeth bank of the Department of Dentistry of the State University of Maringá. It is maintained

through donations of patients attended at the Dental Clinic of this University, basic health units and other sources. The

human teeth bank distributes extracted teeth, eliminates cross-infection, and reduces the indiscriminate handling of

extracted teeth. With this, it is concluded that the human teeth bank is extremely important for the university, valuing the

tooth as an organ and enabling the execution of scientific research work.

Descriptors: Tooth; Tissue and Organ Harvesting; Dentistry.

Resumen

El banco de dientes humanos (BDH) del Departamento de Odontología (DOD) de la Universidad Estatal de Maringá

(UEM) se trata de un núcleo sin fines de lucro, con participación de docentes y discentes voluntarios, con el objetivo de

documentar la procedencia y destino de los dientes humanos extraídos para satisfacer las necesidades académicas para el

aprendizaje de los alumnos y el suministro de dientes humanos para la investigación. Se ha intentado relatar la experiencia

del BDH del DOD-UEM. Se mantiene por medio de donaciones de los pacientes atendidos en la Clínica Odontológica de

esta Universidad, unidades básicas de salud y otras fuentes. El BDH distribuye los dientes extraídos, zana por la

eliminación de la infección cruzada y disminuye el manejo indiscriminado de dientes extraídos. Con ello, se concluye que

el BDH es de extrema importancia para la universidad, valorizando el diente como órgano y posibilitando la ejecución de

trabajos de investigación científica.

Descriptores: Diente; Recolección de Tejidos y Órganos; Odontología.

INTRODUÇÃO

Os dentes são considerados órgãos, e como tais,

devem ser tratados, valorizados e ter a sua origem

conhecida

1

. Para cumprir com estes objetivos torna-se

essencial um Banco de Dentes Humanos inserido na

Universidade.

Atualmente se tem conhecimento de que tecidos do

corpo são fontes de DNA, sendo assim, dentes que são

preservados, identificados e armazenados apropriadamente

em um BDH auxilia a Odontologia forense nas pesquisas

com DNA e na identificação humana

2

.

Na Odontologia, dentro do ambiente universitário,

sempre foi comum a existência da prática da

comercialização ilegal de dentes retirados de cemitérios, o

que causa uma desvalorização do dente como órgão

3

,

além de propiciar a infecção cruzada pelo manuseio

indiscriminado de dentes extraídos e o comércio ilegal de

órgãos

4

.

Com isso, os objetivos para a criação de um BDH

são de centralizar a arrecadação dos dentes extraídos,

difundir e conscientizar a prática de doação de órgãos

dentários, viabilizar material para pesquisas provenientes de

projetos de iniciação científica e pós-graduação, estudos

laboratoriais em nível de graduação nas áreas de Dentística,

Endodontia e Prótese, bem como coibir a prática ilegal do

comércio de dentes

4.

Um bom funcionamento de um BDH é de extrema

importância, já que é fundamental um controle rigoroso dos

procedimentos internos do seu processamento, desde o

recolhimento dos termos de doação, a limpeza, a separação

e o armazenamento

4

.

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A Organização Mundial de Saúde em 2004

5

reconheceu como problema de saúde pública as infecções

relacionadas à assistência em saúde. É necessário ressaltar

que o BDH é essencial para o controle de infecção cruzada,

que existe no manuseio indiscriminado de dentes extraídos

4

.

Assim, o BDH tem um papel fundamental na saúde pública,

preservando a saúde dos pacientes, alunos e profissionais.

O BDH do DOD-UEM foi criado no ano de 2010 e

trata-se de um núcleo sem fins lucrativos, vinculado a

Clínica Odontológica da instituição com a participação de

docentes e discentes voluntários, com o objetivo de

documentar a procedência e o destino dos dentes humanos

extraídos, a fim de suprir as necessidades acadêmicas para o

aprendizado dos alunos, para o uso em laboratório e

treinamento pré-clínico, bem como o fornecimento de

dentes humanos para a pesquisa tanto na graduação quanto

na pós-graduação.

O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão da

literatura quanto à existência dos BDHs no Brasil, além de

relatar particularmente a experiência do BDH da

Universidade Estadual de Maringá, descrevendo suas

limitações e importância para a Universidade e sua

comunidade acadêmica.

REVISÃO DA LITERATURA

O primeiro BDH no Brasil foi criado em 1996, na

Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo

(USP)

6

e em decorrência de sua experiência, foi formulada

em 1997 a Lei n. 9.434 (4 de Fevereiro de 1997), na qual os

dentes humanos passaram a ser reconhecidos como órgãos

7

.

Essa lei dispõe a remoção de órgãos, tecidos e partes do

corpo humano para fins de transplante, tratamento e outras

,

providências

8

. Com isso, a Faculdade de Odontologia da

USP tem sido considerada modelo para implantação de

BDHs no Brasil.

Com a atual legislação brasileira, a exigência de

dentes no ensino, tanto para a finalidade didática quanto

para utilização em pesquisas, trouxe à tona questionamentos

éticos em torno do comércio ilegal de dentes humanos

7

.

Visando minimizar essa atividade, os BDHs foram criados

no Brasil por volta dos anos 2000 nas instituições de ensino

superior

9

. Além disso, tem como objetivo desenvolver uma

percepção de biossegurança e bioética para os discentes e

profissionais de Odontologia, assim, estes são responsáveis

pelas atividades de recepção, preparação, desinfecção,

manipulação, seleção, preservação, catalogação, estocagem,

empréstimo, administração dos dentes doados e educação

para a ética

9

.

Em 2001, num estudo para verificar o estágio da

organização dos BDHs nas instituições brasileiras de ensino

superior em Odontologia, 113 instituições foram contatadas,

36 (31,9%) responderam e destas apenas nove (25%)

declararam ter um BDH

10

. Após 8 anos, outro estudo foi

realizado e foram contatadas 187 instituições de ensino

superior, 57 (30%) responderam e 37 destas (64,91%)

declararam possuir um BDH

6

. O número de instituições que

declararam possuir um BDH aumentou de 25% para

64,91% nos oito anos que distanciam os dois estudos

6

. No

estudo de 2009 mostrou que há BDHs em todas as regiões

brasileiras, enquanto em 2001, não foram identificados

BDHs nas regiões Norte e Centro-Oeste

10

.

Na Resolução n. 347, de 13 de janeiro de 2005, o

Conselho Nacional de Saúde regulamentou a necessidade

do armazenamento e a utilização de material biológico

humano no âmbito de projetos de pesquisa e foi

determinado que o material biológico deveria ser

armazenado sob a responsabilidade de instituição

depositária, a qual terá norma ou regulamento aprovado

pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) dessa instituição

7

.

Portanto, os BDHs tiveram que se adaptar a Resolução e

estarem dentro das normas para o CEP de cada

Universidade.

Desde então, a conscientização das instituições e o

protocolo de doação, armazenamento e utilização de dentes

humanos vem aumentando juntamente com o aparecimento

de BDH na maioria das escolas de Odontologia do Brasil.

Assim, o comércio ilegal de dentes vai sendo ainda mais

divulgado, e estudos são realizados por meio da utilização

de dentes armazenados corretamente com o consentimento

livre e esclarecido do paciente que fez a doação

7

.

Apenas alguns BDHs foram relatados nas

Universidades brasileiras na literatura e suas características

estão dispostas na Tabela 1. Os BDHs diferem quanto ao

seu funcionamento e normas estabelecidas pela instituição

de ensino, porém seu propósito de suprir as necessidades

acadêmicas fornecendo dentes humanos para pesquisas e

atividades didáticas são semelhantes.

A USP, como pioneira, conta com uma estruturação

modelo para as demais instituições e faz consultorias para a

formação de BDHs

11

. Na Universidade Federal do

Amazonas (UFAM), o BDH iniciou como projeto de

extensão relacionado à Endodontia, sendo que os

participantes mantém um sítio de informações sobre o seu

funcionamento e atividades no site da faculdade e em redes

sociais, as doações recebidas são internas e externas, os

dentes são limpos, separados e armazenados em água

destilada em uma temperatura de -20º e são fornecidos para

aulas e pesquisas

12

. A Universidade do Oeste de Santa

Catarina (Unoesc) começou seu BDH com a doação dos

órgãos pelos professores e teve como motivo a aceitação de

pesquisas envolvendo dentes humanos pelo CEP apenas

com origem comprovada. Os dentes também são limpos,

separados e armazenados em água destilada e em

refrigeradores. Nesta Universidade o BDH tem vínculo com

um projeto de extensão

13

. Na Universidade Federal de Santa

Maria (UFSM) o BDH está vinculado à disciplina de

Odontopediatria e tem como objetivo fornecer dentes

decíduos aos professores, acadêmicos e profissionais que

necessitam utilizá-los. A arrecadação é realizada por meio

da associação de crianças no Clubinho do Banco de Dentes

que são os doadores do órgão dentário, sendo os dentes

decíduos limpos, esterilizados na autoclave e armazenados

em água comum sob refrigeração

14

.

A Universidade Estadual de Montes Claros

(UNIMONTES) também compreende o BDH como projeto

de extensão, os participantes tem a função de divulgar além

de realizarem a limpeza, armazenamento e distribuição dos

dentes, as questões éticas do BDH são estudadas na

disciplina de Bioética da Universidade e as pesquisas

podem ser realizadas com a utilização dos órgãos do banco,

assim integra-se extensão, ensino e pesquisa, os quais são

pilares para as instituições de ensino superior

15

.

Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro

(UERJ), o BDH tem caráter multidisciplinar resultante do

trabalho vinculado ao Programa de Educação Tutorial

(PET), por meio de projeto de extensão, com a orientação

do professor tutor

16

. Além das atividades operacionais de

captação, limpeza, catalogação e armazenamento de dentes

humanos; o BDH da UERJ oferece suporte às atividades

didático-científicas e desenvolve ações de conscientização

quanto ao emprego de dentes humanos no ensino e na

pesquisa

16

.

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Tabela 1. Bancos de Dentes Humanos de Universidades brasileiras de

acordo com a literatura estudada.

Artigo

Objetivos dentro da

instituição

Funcionamento Vínculos

Recursos

humanos

Dentes

UFAM12

Pesquisas e

atividades de ensino

na Universidade.

 Desinfecção, seleção,

estocagem e

esterilização.

 Estudo anatômico.

 Doação externa e

interna

 Armazenamento: água

destilada a -20º.

Projeto de

extensão.

Voluntários

(alunos).

Permanentes

e decíduos.

Unoesc13

Regularizar órgãos

dentários,

empréstimo para

ensino e pesquisa.

 Desinfecção, separação

e estocagem.

 Doação interna e

externa.

 Armazenamento: água

destilada sob

refrigeração.

Projeto de

extensão.

Estagiários.

Permanentes

e decíduos.

UFSM14

Fornecer dentes

decíduos aos

professores,

acadêmicos e

profissionais que

necessitam utilizá-los

desde que

sirvam para restaur

ações, reabilitações

bucais, pesquisas ou

atividades didáticas,

vinculado a disciplina

de Odontopediatria.

 Arrecadação pela

associação de crianças

no Clubinho do Banco

de Dentes.

 Limpeza dos dentes

decíduos, esterilização

na autoclave.

 Armazenamento: água

comum sob

refrigeração.

Projeto não

especificado

.

Voluntários. Decíduos.

UNIMONTES15

Estudo das questões

éticas do BDH na

disciplina de Bioética

da Universidade e as

pesquisas podem ser

realizadas com a

utilização dos órgãos

do banco.

 Esterilização dos

dentes, separação,

contabilização,

identificação.

 Armazenamento:

água destilada sob

refrigeração.

Projeto de

extensão,

pesquisa e

ensino.

Alunos e

professores

voluntários.

Permanentes

e decíduos.

UERJ16

Suporte às atividades

didático-científicas e

desenvolvimento

de ações de

conscientização

quanto ao emprego

de dentes humanos

no ensino e na

pesquisa.

 Captação, limpeza,

catalogação e

armazenamento de

dentes humanos.

 Doação externa.

Projeto de

extensão

vinculado ao

PET.

Voluntários

participantes

do PET.

,

Permanentes

e decíduos.

USP11

Utilização para

pesquisas, estudos e

treinamento pré-

clínico

 Recolhimento e

lavagem.

 Armazenamento:

água destilada sob

Não

informado.

Funcionários

contratados

.

Permanentes

e decíduos.

RELATO DE EXPERIÊNCIA DO BHD-UEM

O BDH-UEM foi criado em 2011 e atualmente conta

com a participação ativa de 4 voluntários docentes, sendo

um coordenador geral, 5 alunos da graduação, com estrutura

física de uma sala contendo potes para separação e

estocagem, curetas para a limpeza dos dentes, pia e

geladeira para o armazenamento dos mesmos.

O BDH-UEM não é projeto de ensino, pesquisa ou

extensão, sendo criado como um órgão vinculado à Clínica

Odontológica. Não há qualquer financiamento externo,

sendo que os recursos financeiros, humanos e estruturais

são obtidos exclusivamente pela Clínica.

O funcionamento do BDH-UEM consiste em várias

etapas, iniciando pela arrecadação dos dentes, com o devido

preenchimento do termo de consentimento livre e

esclarecido de cada doador ou responsável. Há um controle

do número de dentes em estoque, por meio de fichas

específicas, e o número de dentes é anotado quando entram

e saem, bem como a data de movimentação. O

consentimento de doação dos dentes extraídos recolhidos e

armazenados por cirurgiões-dentistas, estudantes de

graduação ou indivíduos da população em geral deve ser

obtido no momento do recolhimento dos dentes.

A utilização dos dentes no ensino da graduação se dá

por meio de empréstimo aos estudantes e, ao fim das

disciplinas solicitantes, os dentes são devolvidos ao banco,

independentemente do grau de desgaste ou destruição que

apresentarem.

Quando se trata da utilização na pesquisa, os dentes

são fornecidos por cessão ou empréstimo, dependendo do

tipo de teste a que serão submetidos durante a pesquisa em

questão. Em todos os casos, primeiramente o estudante ou o

pesquisador deverá preencher cadastro, termos de

solicitação e compromisso de citação para que se tenha

controle de sua destinação final. Após isso, um projeto

deverá ser anexado juntamente com o parecer favorável do

Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos

da UEM (COPEP/UEM) para realização do trabalho.

Previamente a aprovação da COPEP, é necessária a

comprovação da origem dos dentes que serão utilizados na

pesquisa. Assim, o BDH providência a declaração de

oferecimento do material para determinado estudo, mas os

dentes somente são liberados para a pesquisa após a

apresentação do parecer conclusivo do COPEP.

Após serem cumpridos os aspectos legais quando

recebidos ou coletados na Clínica da instituição, os dentes

sofrem processos de desinfecção, limpeza e armazenamento

de acordo com o Fluxograma 1.

Arrecadação

dos dentes

Desinfecção Lavagem

RaspagemSeparação

Distribuição

em recipientes

Armazenamento

Fluxograma 1: Atividades desenvolvidas no BDH-UEM.

A desinfecção ocorre na sala de esterilização da

Clínica e apresenta-se dividida em processos de lavagem

prévia dos dentes em água corrente, detergente e escova.

Após esse processo realiza-se a raspagem dos dentes para a

remoção de restos orgânicos por meio de curetas

periodontais. Assim, os dentes são separados e distribuídos

em recipientes identificados em seu respectivo grupo

dentário (incisivos, caninos, pré-molares e molares, assim

como permanentes e decíduos).

De acordo com Imparato et al.

17

ainda existem

incertezas sobre a melhor solução para o armazenamento de

dentes, sendo necessária a realização de pesquisas para

determinar uma substância ideal, sendo proposto o uso de

soro fisiológico, água, formol, cloramina, etanol, timol,

azida de sódio dentre outros. No BDH-UEM é feito o

armazenamento do dente em água comum e refrigerado a

4ºC, em solução de 5 ml, que deve ser trocada

semanalmente e após a troca, sua solução descartada.

Os recipientes são separados mensalmente e

identificados com etiquetas contendo o número de dentes,

seu grupo e data da última troca da solução de

armazenamento. Há atualização constante dos números de

dentes para controle do fluxo de entrada e saída.

Mesmo se o dente vier sem identificação, nenhum

dente é descartado, pois constitui de material biológico que

poderá ser reaproveitado para o ensino. A retirada ou a

chegada de dentes, assim como a identificação dos mesmos,

é anotada em fichas específicas de controle de entrada e

saída, na qual deve constar a assinatura do responsável pelo

estoque de dentes.

Por meio de requisições, os alunos e docentes fazem

os pedidos e os dentes podem ser disponibilizados para

pesquisa ou ensino após análise pela Comissão do BDH, e

se pertinente, os dentes são cedidos.

DISCUSSÃO

Os objetivos principais do BDH-UEM são: a) auxílio

em pesquisas utilizando órgãos dentários, b) controle de

infecção, c) evitar o comércio ilegal de dentes, bem como

ressaltar as questões éticas quanto aos órgãos e

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conscientização dos profissionais da Odontologia, docentes

e discentes da Universidade

3,4

.

O funcionamento de todos os BDHs segue

basicamente o mesmo protocolo de coleta, limpeza e

armazenamento nas instituições estudadas

11-16

, porém nessa

última etapa, diferentemente dos outros bancos, na UEM e

na UFSM

14

, observou-se que o armazenamento dos dentes é

realizado em água comum, ao invés de água destilada como

na maioria dos BDHs. Na UEM ocorre assim, pois falta

financiamento necessário para a manutenção desse método

de armazenamento, já que todo recurso adquirido para a

manutenção de suas atividades é advindo da Clínica.

Nas Universidades UFAM

12

, Unoesc

13

,

UNIMONTES

15

, UERJ

16

e USP

11

são coletados dentes

permanentes e decíduos, igualmente a UEM, porém na

UFSM

14

ocorre apenas com dentes decíduos, por ser

direcionado a disciplina de Odontopediatria.

O BDH da UEM é vinculado apenas à Clínica, e não

é projeto de ensino, pesquisa e extensão e não pertence a

nenhum outro programa. Em outras experiências, isto não

ocorre. Por exemplo, na UERJ

16

, o projeto é vinculado ao

PET e enquadra-se em um projeto de extensão, em que

trabalha diversas ações de conscientização junto ao público

externo da Universidade, ocorrendo maior aproximação

entre o BDH e a comunidade, desse modo ampliando a

captação de dentes por meio de outras fontes além da

faculdade e motivando os pacientes para a doação, além de

buscar conscientizar os próprios alunos da instituição

16

. No

BDH-UEM ainda é observado uma lacuna nessa área.

Na UNIMONTES

15

ocorre uma maior divulgação do

projeto, na qual a questão ética do BDH é estudada pela

disciplina de Bioética oferecida pela Universidade e ocorre

um contato direto de todos os alunos com a utilização da

estrutura física no BDH na aula prática da disciplina de

anatomia especial

15

. Na UFAM e na Unoesc, o BDH tem

funcionamento por meio de projetos de extensão e conta

com a participação de docentes e discentes

12,13

. Vale

ressaltar que nota-se a escassez de dados na literatura

internacional sobre os bancos de dentes e as questões éticas

que os envolvem

6

.

Uma restrição observada em todos os BDHs é que a

maioria dos pacientes não tem a correta informação sobre a

existência deste banco e sua importância, e devido a isso

nem todos aceitam fazer a doação desse órgão. Muitos

alunos da própria instituição

,

não tem a informação

adequada sobre o funcionamento do BDH, o que prejudica

na hora de intervir de melhor forma no momento da

coleta

6,16

. Por isso, os objetivos da coordenação do BDH na

UEM é ampliar a divulgação, receber dentes de doações

externas e doar/emprestar para os alunos utilizarem no

ensino das práticas laboratoriais.

Nassif et al.

11

mencionaram que para o bom

funcionamento de um BDH, é fundamental um controle

severo de seus procedimentos internos, que incluem a

separação e o estoque de dentes, assim como o cadastro e o

arquivamento das fichas dos doadores e beneficiários. O

BDH-UEM faz questão de registrar e controlar a entrada e

saída dos dentes humanos, bem como o correto

preenchimento de todas as fichas necessárias para a doação

do material. Além disso, a biossegurança é essencial na

coleta, limpeza e manuseio desses dentes, implementando

uma educação permanente

18

.

O BDH-UEM almeja se tornar projeto de extensão,

pesquisa ou ensino para a busca de financiamento, bem

como a utilização dos dentes recolhidos e armazenados para

suporte nas atividades didático-científicas como estudos e

treinamentos pré-clínicos, porém este objetivo ainda não foi

alcançado.

Na UEM há acadêmicos do curso de Odontologia

que compõem o BDH, e estão inseridos na clínica ampliada

e de cirurgia, que são responsáveis por fiscalizar o

preenchimento dos formulários e orientar os alunos para

recolherem os dentes corretamente.

A demanda de dentes para sustentar todos os alunos

em laboratório é grande nas Universidades

4

. Na UEM,

ainda não foi possível cumprir este objetivo e disponibilizar

dentes para todos os alunos no ensino. Outra limitação

verificada em todos os BDHs

11-16

, com exceção da USP,

está relacionada a presença de funcionários contratados. Na

maioria dos BDHs, o funcionamento do serviço ocorre pela

cooperação de docentes e discentes de forma voluntária.

Além disso, o BDH necessita ser mais divulgado na

comunidade interna e externa da instituição com intuito de

incentivar as doações, conscientizar sobre a importância

cultural, bioética, social, legal e moral da existência de um

BDH. Para isso há sugestões para a divulgação por meio de

atividade educativas, redes sociais, congressos, palestras,

cartazes e folders que serão inseridos como proposta para o

BDH-UEM.

CONCLUSÃO

Apesar de o BDH-UEM apresentar suas limitações,

seu funcionamento é de extrema importância para a

Universidade, para os alunos e para a população,

valorizando o dente como órgão, evitando o comércio

ilegal, diminuindo as fontes de infecção cruzada além

de apoiar o desenvolvimento e a execução de pesquisas

científicas.

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CONFLITO DE INTERESSES

Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

AUTOR PARA CORRESPONDÊNCIA

Marcos Sérgio Endo

marcossendo@gmail.com

Submetido em 11/08/2017

Aceito em 11/09/2017

A importancia do Banco de Dentes relato de experiência - Odontologia (2024)
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