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A importância do banco de dentes humanos:
relato de experiência
The importance of the human teeth bank in public health:
experience report
La importancia del banco de dientes humanos:
relato de experiencia
Marcos Sérgio ENDO1
Isabela Regina Grilo SILVA2
Márcia Cristina da SILVA2
Raquel Sano Suga TERADA1
Najara Barbosa da ROCHA1
Professor(a) Adjunto do Departamento de Odontologia, da Universidade Estadual de Maringá-UEM,
87020.900 Maringá-PR, Brasil
Aluna da graduação do Departamento de Odontologia da Universidade Estadual de Maringá-UEM,
87020.900 Maringá-PR, Brasil
Resumo
O banco de dentes humanos (BDH) do Departamento de Odontologia (DOD) da Universidade Estadual de Maringá
(UEM) trata-se de um núcleo sem fins lucrativos, com participação de docentes e discentes voluntários, objetivando
documentar a procedência e destino dos dentes humanos extraídos, a fim de suprir as necessidades acadêmicas para o
aprendizado dos alunos e o fornecimento de dentes humanos para a pesquisa. Este trabalho tem como objetivo relatar a
experiência do BDH do DOD-UEM. Ele é mantido por meio de doações dos pacientes atendidos na Clínica Odontológica
desta Universidade, unidades básicas de saúde e outras fontes. O BDH distribui os dentes extraídos, zela pela eliminação
da infecção cruzada e diminui o manuseio indiscriminado de dentes extraídos. Com isso, conclui-se que o BDH é de
extrema importância para a universidade, valorizando o dente como órgão e possibilitar a execução de trabalhos de
pesquisa científica.
Descritores: Dente; Coleta de Tecidos e Órgãos; Odontologia.
Abstract
The human teeth bank of the Department of Dentistry of the State University of Maringá is a non-profit center with the
participation of volunteer teachers and students, aiming to document the origin and destination of human teeth In order to
meet the academic needs for student learning and the provision of human teeth for research. This work aimed to report the
experience of the human teeth bank of the Department of Dentistry of the State University of Maringá. It is maintained
through donations of patients attended at the Dental Clinic of this University, basic health units and other sources. The
human teeth bank distributes extracted teeth, eliminates cross-infection, and reduces the indiscriminate handling of
extracted teeth. With this, it is concluded that the human teeth bank is extremely important for the university, valuing the
tooth as an organ and enabling the execution of scientific research work.
Descriptors: Tooth; Tissue and Organ Harvesting; Dentistry.
Resumen
El banco de dientes humanos (BDH) del Departamento de Odontología (DOD) de la Universidad Estatal de Maringá
(UEM) se trata de un núcleo sin fines de lucro, con participación de docentes y discentes voluntarios, con el objetivo de
documentar la procedencia y destino de los dientes humanos extraídos para satisfacer las necesidades académicas para el
aprendizaje de los alumnos y el suministro de dientes humanos para la investigación. Se ha intentado relatar la experiencia
del BDH del DOD-UEM. Se mantiene por medio de donaciones de los pacientes atendidos en la Clínica Odontológica de
esta Universidad, unidades básicas de salud y otras fuentes. El BDH distribuye los dientes extraídos, zana por la
eliminación de la infección cruzada y disminuye el manejo indiscriminado de dientes extraídos. Con ello, se concluye que
el BDH es de extrema importancia para la universidad, valorizando el diente como órgano y posibilitando la ejecución de
trabajos de investigación científica.
Descriptores: Diente; Recolección de Tejidos y Órganos; Odontología.
INTRODUÇÃO
Os dentes são considerados órgãos, e como tais,
devem ser tratados, valorizados e ter a sua origem
conhecida
1
. Para cumprir com estes objetivos torna-se
essencial um Banco de Dentes Humanos inserido na
Universidade.
Atualmente se tem conhecimento de que tecidos do
corpo são fontes de DNA, sendo assim, dentes que são
preservados, identificados e armazenados apropriadamente
em um BDH auxilia a Odontologia forense nas pesquisas
com DNA e na identificação humana
2
.
Na Odontologia, dentro do ambiente universitário,
sempre foi comum a existência da prática da
comercialização ilegal de dentes retirados de cemitérios, o
que causa uma desvalorização do dente como órgão
3
,
além de propiciar a infecção cruzada pelo manuseio
indiscriminado de dentes extraídos e o comércio ilegal de
órgãos
4
.
Com isso, os objetivos para a criação de um BDH
são de centralizar a arrecadação dos dentes extraídos,
difundir e conscientizar a prática de doação de órgãos
dentários, viabilizar material para pesquisas provenientes de
projetos de iniciação científica e pós-graduação, estudos
laboratoriais em nível de graduação nas áreas de Dentística,
Endodontia e Prótese, bem como coibir a prática ilegal do
comércio de dentes
4.
Um bom funcionamento de um BDH é de extrema
importância, já que é fundamental um controle rigoroso dos
procedimentos internos do seu processamento, desde o
recolhimento dos termos de doação, a limpeza, a separação
e o armazenamento
4
.
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A Organização Mundial de Saúde em 2004
5
reconheceu como problema de saúde pública as infecções
relacionadas à assistência em saúde. É necessário ressaltar
que o BDH é essencial para o controle de infecção cruzada,
que existe no manuseio indiscriminado de dentes extraídos
4
.
Assim, o BDH tem um papel fundamental na saúde pública,
preservando a saúde dos pacientes, alunos e profissionais.
O BDH do DOD-UEM foi criado no ano de 2010 e
trata-se de um núcleo sem fins lucrativos, vinculado a
Clínica Odontológica da instituição com a participação de
docentes e discentes voluntários, com o objetivo de
documentar a procedência e o destino dos dentes humanos
extraídos, a fim de suprir as necessidades acadêmicas para o
aprendizado dos alunos, para o uso em laboratório e
treinamento pré-clínico, bem como o fornecimento de
dentes humanos para a pesquisa tanto na graduação quanto
na pós-graduação.
O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão da
literatura quanto à existência dos BDHs no Brasil, além de
relatar particularmente a experiência do BDH da
Universidade Estadual de Maringá, descrevendo suas
limitações e importância para a Universidade e sua
comunidade acadêmica.
REVISÃO DA LITERATURA
O primeiro BDH no Brasil foi criado em 1996, na
Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
(USP)
6
e em decorrência de sua experiência, foi formulada
em 1997 a Lei n. 9.434 (4 de Fevereiro de 1997), na qual os
dentes humanos passaram a ser reconhecidos como órgãos
7
.
Essa lei dispõe a remoção de órgãos, tecidos e partes do
corpo humano para fins de transplante, tratamento e outras
,providências
8
. Com isso, a Faculdade de Odontologia da
USP tem sido considerada modelo para implantação de
BDHs no Brasil.
Com a atual legislação brasileira, a exigência de
dentes no ensino, tanto para a finalidade didática quanto
para utilização em pesquisas, trouxe à tona questionamentos
éticos em torno do comércio ilegal de dentes humanos
7
.
Visando minimizar essa atividade, os BDHs foram criados
no Brasil por volta dos anos 2000 nas instituições de ensino
superior
9
. Além disso, tem como objetivo desenvolver uma
percepção de biossegurança e bioética para os discentes e
profissionais de Odontologia, assim, estes são responsáveis
pelas atividades de recepção, preparação, desinfecção,
manipulação, seleção, preservação, catalogação, estocagem,
empréstimo, administração dos dentes doados e educação
para a ética
9
.
Em 2001, num estudo para verificar o estágio da
organização dos BDHs nas instituições brasileiras de ensino
superior em Odontologia, 113 instituições foram contatadas,
36 (31,9%) responderam e destas apenas nove (25%)
declararam ter um BDH
10
. Após 8 anos, outro estudo foi
realizado e foram contatadas 187 instituições de ensino
superior, 57 (30%) responderam e 37 destas (64,91%)
declararam possuir um BDH
6
. O número de instituições que
declararam possuir um BDH aumentou de 25% para
64,91% nos oito anos que distanciam os dois estudos
6
. No
estudo de 2009 mostrou que há BDHs em todas as regiões
brasileiras, enquanto em 2001, não foram identificados
BDHs nas regiões Norte e Centro-Oeste
10
.
Na Resolução n. 347, de 13 de janeiro de 2005, o
Conselho Nacional de Saúde regulamentou a necessidade
do armazenamento e a utilização de material biológico
humano no âmbito de projetos de pesquisa e foi
determinado que o material biológico deveria ser
armazenado sob a responsabilidade de instituição
depositária, a qual terá norma ou regulamento aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) dessa instituição
7
.
Portanto, os BDHs tiveram que se adaptar a Resolução e
estarem dentro das normas para o CEP de cada
Universidade.
Desde então, a conscientização das instituições e o
protocolo de doação, armazenamento e utilização de dentes
humanos vem aumentando juntamente com o aparecimento
de BDH na maioria das escolas de Odontologia do Brasil.
Assim, o comércio ilegal de dentes vai sendo ainda mais
divulgado, e estudos são realizados por meio da utilização
de dentes armazenados corretamente com o consentimento
livre e esclarecido do paciente que fez a doação
7
.
Apenas alguns BDHs foram relatados nas
Universidades brasileiras na literatura e suas características
estão dispostas na Tabela 1. Os BDHs diferem quanto ao
seu funcionamento e normas estabelecidas pela instituição
de ensino, porém seu propósito de suprir as necessidades
acadêmicas fornecendo dentes humanos para pesquisas e
atividades didáticas são semelhantes.
A USP, como pioneira, conta com uma estruturação
modelo para as demais instituições e faz consultorias para a
formação de BDHs
11
. Na Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), o BDH iniciou como projeto de
extensão relacionado à Endodontia, sendo que os
participantes mantém um sítio de informações sobre o seu
funcionamento e atividades no site da faculdade e em redes
sociais, as doações recebidas são internas e externas, os
dentes são limpos, separados e armazenados em água
destilada em uma temperatura de -20º e são fornecidos para
aulas e pesquisas
12
. A Universidade do Oeste de Santa
Catarina (Unoesc) começou seu BDH com a doação dos
órgãos pelos professores e teve como motivo a aceitação de
pesquisas envolvendo dentes humanos pelo CEP apenas
com origem comprovada. Os dentes também são limpos,
separados e armazenados em água destilada e em
refrigeradores. Nesta Universidade o BDH tem vínculo com
um projeto de extensão
13
. Na Universidade Federal de Santa
Maria (UFSM) o BDH está vinculado à disciplina de
Odontopediatria e tem como objetivo fornecer dentes
decíduos aos professores, acadêmicos e profissionais que
necessitam utilizá-los. A arrecadação é realizada por meio
da associação de crianças no Clubinho do Banco de Dentes
que são os doadores do órgão dentário, sendo os dentes
decíduos limpos, esterilizados na autoclave e armazenados
em água comum sob refrigeração
14
.
A Universidade Estadual de Montes Claros
(UNIMONTES) também compreende o BDH como projeto
de extensão, os participantes tem a função de divulgar além
de realizarem a limpeza, armazenamento e distribuição dos
dentes, as questões éticas do BDH são estudadas na
disciplina de Bioética da Universidade e as pesquisas
podem ser realizadas com a utilização dos órgãos do banco,
assim integra-se extensão, ensino e pesquisa, os quais são
pilares para as instituições de ensino superior
15
.
Na Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ), o BDH tem caráter multidisciplinar resultante do
trabalho vinculado ao Programa de Educação Tutorial
(PET), por meio de projeto de extensão, com a orientação
do professor tutor
16
. Além das atividades operacionais de
captação, limpeza, catalogação e armazenamento de dentes
humanos; o BDH da UERJ oferece suporte às atividades
didático-científicas e desenvolve ações de conscientização
quanto ao emprego de dentes humanos no ensino e na
pesquisa
16
.
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Tabela 1. Bancos de Dentes Humanos de Universidades brasileiras de
acordo com a literatura estudada.
Artigo
Objetivos dentro da
instituição
Funcionamento Vínculos
Recursos
humanos
Dentes
UFAM12
Pesquisas e
atividades de ensino
na Universidade.
Desinfecção, seleção,
estocagem e
esterilização.
Estudo anatômico.
Doação externa e
interna
Armazenamento: água
destilada a -20º.
Projeto de
extensão.
Voluntários
(alunos).
Permanentes
e decíduos.
Unoesc13
Regularizar órgãos
dentários,
empréstimo para
ensino e pesquisa.
Desinfecção, separação
e estocagem.
Doação interna e
externa.
Armazenamento: água
destilada sob
refrigeração.
Projeto de
extensão.
Estagiários.
Permanentes
e decíduos.
UFSM14
Fornecer dentes
decíduos aos
professores,
acadêmicos e
profissionais que
necessitam utilizá-los
desde que
sirvam para restaur
ações, reabilitações
bucais, pesquisas ou
atividades didáticas,
vinculado a disciplina
de Odontopediatria.
Arrecadação pela
associação de crianças
no Clubinho do Banco
de Dentes.
Limpeza dos dentes
decíduos, esterilização
na autoclave.
Armazenamento: água
comum sob
refrigeração.
Projeto não
especificado
.
Voluntários. Decíduos.
UNIMONTES15
Estudo das questões
éticas do BDH na
disciplina de Bioética
da Universidade e as
pesquisas podem ser
realizadas com a
utilização dos órgãos
do banco.
Esterilização dos
dentes, separação,
contabilização,
identificação.
Armazenamento:
água destilada sob
refrigeração.
Projeto de
extensão,
pesquisa e
ensino.
Alunos e
professores
voluntários.
Permanentes
e decíduos.
UERJ16
Suporte às atividades
didático-científicas e
desenvolvimento
de ações de
conscientização
quanto ao emprego
de dentes humanos
no ensino e na
pesquisa.
Captação, limpeza,
catalogação e
armazenamento de
dentes humanos.
Doação externa.
Projeto de
extensão
vinculado ao
PET.
Voluntários
participantes
do PET.
,Permanentes
e decíduos.
USP11
Utilização para
pesquisas, estudos e
treinamento pré-
clínico
Recolhimento e
lavagem.
Armazenamento:
água destilada sob
Não
informado.
Funcionários
contratados
.
Permanentes
e decíduos.
RELATO DE EXPERIÊNCIA DO BHD-UEM
O BDH-UEM foi criado em 2011 e atualmente conta
com a participação ativa de 4 voluntários docentes, sendo
um coordenador geral, 5 alunos da graduação, com estrutura
física de uma sala contendo potes para separação e
estocagem, curetas para a limpeza dos dentes, pia e
geladeira para o armazenamento dos mesmos.
O BDH-UEM não é projeto de ensino, pesquisa ou
extensão, sendo criado como um órgão vinculado à Clínica
Odontológica. Não há qualquer financiamento externo,
sendo que os recursos financeiros, humanos e estruturais
são obtidos exclusivamente pela Clínica.
O funcionamento do BDH-UEM consiste em várias
etapas, iniciando pela arrecadação dos dentes, com o devido
preenchimento do termo de consentimento livre e
esclarecido de cada doador ou responsável. Há um controle
do número de dentes em estoque, por meio de fichas
específicas, e o número de dentes é anotado quando entram
e saem, bem como a data de movimentação. O
consentimento de doação dos dentes extraídos recolhidos e
armazenados por cirurgiões-dentistas, estudantes de
graduação ou indivíduos da população em geral deve ser
obtido no momento do recolhimento dos dentes.
A utilização dos dentes no ensino da graduação se dá
por meio de empréstimo aos estudantes e, ao fim das
disciplinas solicitantes, os dentes são devolvidos ao banco,
independentemente do grau de desgaste ou destruição que
apresentarem.
Quando se trata da utilização na pesquisa, os dentes
são fornecidos por cessão ou empréstimo, dependendo do
tipo de teste a que serão submetidos durante a pesquisa em
questão. Em todos os casos, primeiramente o estudante ou o
pesquisador deverá preencher cadastro, termos de
solicitação e compromisso de citação para que se tenha
controle de sua destinação final. Após isso, um projeto
deverá ser anexado juntamente com o parecer favorável do
Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos
da UEM (COPEP/UEM) para realização do trabalho.
Previamente a aprovação da COPEP, é necessária a
comprovação da origem dos dentes que serão utilizados na
pesquisa. Assim, o BDH providência a declaração de
oferecimento do material para determinado estudo, mas os
dentes somente são liberados para a pesquisa após a
apresentação do parecer conclusivo do COPEP.
Após serem cumpridos os aspectos legais quando
recebidos ou coletados na Clínica da instituição, os dentes
sofrem processos de desinfecção, limpeza e armazenamento
de acordo com o Fluxograma 1.
Arrecadação
dos dentes
Desinfecção Lavagem
RaspagemSeparação
Distribuição
em recipientes
Armazenamento
Fluxograma 1: Atividades desenvolvidas no BDH-UEM.
A desinfecção ocorre na sala de esterilização da
Clínica e apresenta-se dividida em processos de lavagem
prévia dos dentes em água corrente, detergente e escova.
Após esse processo realiza-se a raspagem dos dentes para a
remoção de restos orgânicos por meio de curetas
periodontais. Assim, os dentes são separados e distribuídos
em recipientes identificados em seu respectivo grupo
dentário (incisivos, caninos, pré-molares e molares, assim
como permanentes e decíduos).
De acordo com Imparato et al.
17
ainda existem
incertezas sobre a melhor solução para o armazenamento de
dentes, sendo necessária a realização de pesquisas para
determinar uma substância ideal, sendo proposto o uso de
soro fisiológico, água, formol, cloramina, etanol, timol,
azida de sódio dentre outros. No BDH-UEM é feito o
armazenamento do dente em água comum e refrigerado a
4ºC, em solução de 5 ml, que deve ser trocada
semanalmente e após a troca, sua solução descartada.
Os recipientes são separados mensalmente e
identificados com etiquetas contendo o número de dentes,
seu grupo e data da última troca da solução de
armazenamento. Há atualização constante dos números de
dentes para controle do fluxo de entrada e saída.
Mesmo se o dente vier sem identificação, nenhum
dente é descartado, pois constitui de material biológico que
poderá ser reaproveitado para o ensino. A retirada ou a
chegada de dentes, assim como a identificação dos mesmos,
é anotada em fichas específicas de controle de entrada e
saída, na qual deve constar a assinatura do responsável pelo
estoque de dentes.
Por meio de requisições, os alunos e docentes fazem
os pedidos e os dentes podem ser disponibilizados para
pesquisa ou ensino após análise pela Comissão do BDH, e
se pertinente, os dentes são cedidos.
DISCUSSÃO
Os objetivos principais do BDH-UEM são: a) auxílio
em pesquisas utilizando órgãos dentários, b) controle de
infecção, c) evitar o comércio ilegal de dentes, bem como
ressaltar as questões éticas quanto aos órgãos e
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conscientização dos profissionais da Odontologia, docentes
e discentes da Universidade
3,4
.
O funcionamento de todos os BDHs segue
basicamente o mesmo protocolo de coleta, limpeza e
armazenamento nas instituições estudadas
11-16
, porém nessa
última etapa, diferentemente dos outros bancos, na UEM e
na UFSM
14
, observou-se que o armazenamento dos dentes é
realizado em água comum, ao invés de água destilada como
na maioria dos BDHs. Na UEM ocorre assim, pois falta
financiamento necessário para a manutenção desse método
de armazenamento, já que todo recurso adquirido para a
manutenção de suas atividades é advindo da Clínica.
Nas Universidades UFAM
12
, Unoesc
13
,
UNIMONTES
15
, UERJ
16
e USP
11
são coletados dentes
permanentes e decíduos, igualmente a UEM, porém na
UFSM
14
ocorre apenas com dentes decíduos, por ser
direcionado a disciplina de Odontopediatria.
O BDH da UEM é vinculado apenas à Clínica, e não
é projeto de ensino, pesquisa e extensão e não pertence a
nenhum outro programa. Em outras experiências, isto não
ocorre. Por exemplo, na UERJ
16
, o projeto é vinculado ao
PET e enquadra-se em um projeto de extensão, em que
trabalha diversas ações de conscientização junto ao público
externo da Universidade, ocorrendo maior aproximação
entre o BDH e a comunidade, desse modo ampliando a
captação de dentes por meio de outras fontes além da
faculdade e motivando os pacientes para a doação, além de
buscar conscientizar os próprios alunos da instituição
16
. No
BDH-UEM ainda é observado uma lacuna nessa área.
Na UNIMONTES
15
ocorre uma maior divulgação do
projeto, na qual a questão ética do BDH é estudada pela
disciplina de Bioética oferecida pela Universidade e ocorre
um contato direto de todos os alunos com a utilização da
estrutura física no BDH na aula prática da disciplina de
anatomia especial
15
. Na UFAM e na Unoesc, o BDH tem
funcionamento por meio de projetos de extensão e conta
com a participação de docentes e discentes
12,13
. Vale
ressaltar que nota-se a escassez de dados na literatura
internacional sobre os bancos de dentes e as questões éticas
que os envolvem
6
.
Uma restrição observada em todos os BDHs é que a
maioria dos pacientes não tem a correta informação sobre a
existência deste banco e sua importância, e devido a isso
nem todos aceitam fazer a doação desse órgão. Muitos
alunos da própria instituição
,não tem a informação
adequada sobre o funcionamento do BDH, o que prejudica
na hora de intervir de melhor forma no momento da
coleta
6,16
. Por isso, os objetivos da coordenação do BDH na
UEM é ampliar a divulgação, receber dentes de doações
externas e doar/emprestar para os alunos utilizarem no
ensino das práticas laboratoriais.
Nassif et al.
11
mencionaram que para o bom
funcionamento de um BDH, é fundamental um controle
severo de seus procedimentos internos, que incluem a
separação e o estoque de dentes, assim como o cadastro e o
arquivamento das fichas dos doadores e beneficiários. O
BDH-UEM faz questão de registrar e controlar a entrada e
saída dos dentes humanos, bem como o correto
preenchimento de todas as fichas necessárias para a doação
do material. Além disso, a biossegurança é essencial na
coleta, limpeza e manuseio desses dentes, implementando
uma educação permanente
18
.
O BDH-UEM almeja se tornar projeto de extensão,
pesquisa ou ensino para a busca de financiamento, bem
como a utilização dos dentes recolhidos e armazenados para
suporte nas atividades didático-científicas como estudos e
treinamentos pré-clínicos, porém este objetivo ainda não foi
alcançado.
Na UEM há acadêmicos do curso de Odontologia
que compõem o BDH, e estão inseridos na clínica ampliada
e de cirurgia, que são responsáveis por fiscalizar o
preenchimento dos formulários e orientar os alunos para
recolherem os dentes corretamente.
A demanda de dentes para sustentar todos os alunos
em laboratório é grande nas Universidades
4
. Na UEM,
ainda não foi possível cumprir este objetivo e disponibilizar
dentes para todos os alunos no ensino. Outra limitação
verificada em todos os BDHs
11-16
, com exceção da USP,
está relacionada a presença de funcionários contratados. Na
maioria dos BDHs, o funcionamento do serviço ocorre pela
cooperação de docentes e discentes de forma voluntária.
Além disso, o BDH necessita ser mais divulgado na
comunidade interna e externa da instituição com intuito de
incentivar as doações, conscientizar sobre a importância
cultural, bioética, social, legal e moral da existência de um
BDH. Para isso há sugestões para a divulgação por meio de
atividade educativas, redes sociais, congressos, palestras,
cartazes e folders que serão inseridos como proposta para o
BDH-UEM.
CONCLUSÃO
Apesar de o BDH-UEM apresentar suas limitações,
seu funcionamento é de extrema importância para a
Universidade, para os alunos e para a população,
valorizando o dente como órgão, evitando o comércio
ilegal, diminuindo as fontes de infecção cruzada além
de apoiar o desenvolvimento e a execução de pesquisas
científicas.
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CONFLITO DE INTERESSES
Os autores declaram não haver conflitos de interesse.
AUTOR PARA CORRESPONDÊNCIA
Marcos Sérgio Endo
marcossendo@gmail.com
Submetido em 11/08/2017
Aceito em 11/09/2017