Transição de carreira: esse é um tema que passa pela cabeça de muitas pessoas durante a graduação, e ainda mais depois dela. Mas como funciona esse caminho? Quais são as estratégias? Será que preciso fazer outra graduação?
Vou compartilhar um pouco sobre como foi sair de uma carreira acadêmica para me tornar gestora de parcerias em uma startup.
Sou formada em Biomedicina pela UFRJ, aquela que a gente carinhosamente chama de "queridinha". Alguns podem achar que a minha caminhada foi bem diversificada (para não dizer turbulenta!). A verdade é que meu plano era claro: seguir a carreira acadêmica e, quem sabe, me tornar professora na maior universidade do Brasil.
Desde que cheguei na UFRJ, eu queria aproveitar tudo o que a universidade podia me oferecer. Comecei no curso de Biofísica no campus de Xerém, mas já nessa época a transição de carreira estava acontecendo sem que eu percebesse. Eu fazia estágio em um laboratório de biocombustíveis no Instituto de Química, mas logo senti que precisava estar mais próxima dos laboratórios no Fundão. Foi então que surgiu em mim um interesse maior pela pesquisa em saúde e a inquietação de que ficar onde eu estava não me traria os retornos que eu buscava. Decidi mudar para o curso de Biomedicina.
No meu primeiro período, realizei o que muitos estudantes consideram um sonho: conseguir minha própria linha de pesquisa. Trabalhei com coagulação usando macroalgas como matéria-prima, e fui muito clara com meu orientador sobre meu objetivo: queria publicar um artigo ainda na graduação como primeira autora. O trabalho foi árduo, mas recompensador. Em menos de um ano, estava apresentando minha pesquisa no meu primeiro congresso internacional, onde ganhei o prêmio de melhor trabalho da graduação. E um ano depois, publiquei meu primeiro artigo científico.
Mas, como nem tudo sai como planejado, meu orientador precisou voltar para sua cidade natal, e eu tive que procurar outro lugar para continuar meus estudos. No meio de vários desafios da graduação, busquei ficar no laboratório onde estava, mas conheci a área de neurodegeneração, que me encantou. A paixão por neurociência veio por causa de um problema de saúde que minha mãe enfrentou, e eu queria estudar mais sobre isso.
Foi durante uma aula de Bioética que minha professora fez uma pergunta que mudou tudo para mim: "O que nós, como alunos da maior universidade do país, vamos devolver para a sociedade após a graduação?" E a resposta que veio à minha mente foi chocante: nada. A academia, muitas vezes, gera pesquisas que ficam confinadas dentro de seus muros, sem que a sociedade sequer saiba o que acontece lá. Essa foi minha primeira grande inquietação, que me levou a sair do laboratório e me aventurar na comunicação e divulgação científica.
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Nesse período, comecei a organizar eventos como as semanas acadêmicas de Biomedicina, liderando a equipe de parcerias (sim, parcerias já estavam no meu caminho desde então). Foi assim que conheci pessoas incríveis que me apresentaram ao mundo do empreendedorismo. Participei da organização de um TEDx na universidade, atuando como curadora dos palestrantes — uma experiência inestimável.
Minha paixão pela comunicação científica só cresceu. Trabalhei em um museu interativo, levando ciência para as escolas do Rio de Janeiro, e em um projeto de impressão 3D voltado para desenvolver materiais educativos para crianças com baixa visão. Saí desse projeto para trabalhar em um museu de ciência e tecnologia no Instituto de Biofísica, onde fui mediadora por um bom tempo. Mas aí veio a pandemia, e comecei a desenvolver uma pesquisa sobre divulgação científica em redes sociais. Defendi minha monografia nessa área, unindo minhas duas paixões: ciência e comunicação.
Mesmo assim, senti que precisava de mais. O sonho de seguir na academia já não fazia mais sentido para mim, e decidi me arriscar no mercado de trabalho. Fui trabalhar em uma empresa na área de ajustes de aulas para pós-graduação em medicina, onde fiquei por pouco mais de um ano. Depois, resolvi sair para trabalhar como freelancer, atuando como analista de mídias sociais com um amigo.
Nesse meio tempo, fui a eventos como o Rio Innovation Week, onde pude expandir meu networking. Na primeira edição, fiquei encantada; na segunda, conheci quem hoje é meu líder. Insisti bastante até conseguir trabalhar em um RIW de forma pontual em 2023, e logo depois fui convidada para integrar a equipe da startup onde estou hoje. Esse ano, participei do RIW como painelista, falando sobre o poder das parcerias.
E as lições disso tudo? Bom, tenho várias! A primeira é para você que está aí, insatisfeito com seu curso na universidade: viva tudo o que a universidade pode te oferecer. Explore novas áreas, não tenha medo de mudar de curso ou de área durante a graduação. Você é jovem, então arrisque, e se tiver medo, vá com medo mesmo. Tá tudo bem errar, é assim que se aprende.
Se você quer conhecer outras áreas e ingressar no mercado de trabalho, participe de eventos, converse com pessoas, faça networking. Isso abriu muitas portas para mim.
E não, você não precisa fazer outra graduação. Pode optar por uma pós-graduação na área que você deseja, como um MBA, que é mais focado no mercado. Hoje, estou fazendo um MBA em Marketing pela USP, com 100% de bolsa, e também um curso em Gestão da Inovação pela COPPEAD/UFRJ. Investir em cursos que oferecem bolsas de estudo é uma ótima dica.
Essa é uma breve história sobre a minha transição de carreira, cheia de desafios e conquistas. Se quiser conversar mais sobre o assunto, estou por aqui. Fique de olho, porque ainda vou falar muito sobre isso!